Pessoas com deficiência destacam ambiente de inclusão e acolhimento no TJRJ
Acolhidos e incluídos: é assim que servidores com deficiência que atuam no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) descrevem o ambiente de trabalho. Neste domingo, 21 de setembro, é comemorado o “Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência”, marcado para conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de meios de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade. E, para dar visibilidade a essa data tão relevante, PCDs falam das suas trajetórias e experiências no dia a dia do Judiciário fluminense.
Com deficiência visual, Marcio Castro de Aguiar é servidor há 22 anos do TJRJ. Ele conta que, desde que chegou, sempre foi muito acolhido e reforça que falar sobre inclusão vem sendo fundamental para criar um ambiente de acolhimento dentro do Tribunal. “Minha primeira lotação foi em Niterói, no 1º Juizado Especial Cível, onde encontrei um pessoal bem empático e fiz grandes amigos. Mas, não é só a equipe que tem que ser empática. Todos devem ser. Aqui no TJ, falamos muito sobre o assunto, realizamos palestras, capacitações, sensibilizações. O grande problema que a pessoa com deficiência enfrenta é o da barreira atitudinal. A atitude mora na outra pessoa, então, precisamos tocá-la de uma outra forma. E como realizamos isso? Dando informações, esclarecendo. A própria pessoa com deficiência é um agente de inclusão”, explicou.
Em maio deste ano, Marcio foi nomeado diretor do novo Departamento de Acessibilidade e Inclusão Social (Deais). Para ele, a nomeação fortalece o propósito do TJRJ em romper com o capacitismo e promover inclusão. “Quando o presidente do TJRJ, desembargador Ricardo Couto de Castro, nomeia um deficiente visual para dirigir um novo departamento, ele rompe com o capacitismo e reconhece que esse servidor tem total capacidade de gerenciar vários processos de trabalho”, destacou.
Marcio de Aguiar foi nomeado diretor do novo Departamento de Acessibilidade e Inclusão Social (Deais)
Rede de apoio no TJ
Diagnosticada com distrofia muscular progressiva, Daniela Bloris trabalha há 26 anos no Tribunal de Justiça do Rio. Aprovada no primeiro concurso para psicólogos do órgão, a servidora conta que as pessoas do TJ sempre foram muito acolhedoras com ela.
“A minha distrofia vai aumentado aos pouquinhos. Quando eu comecei no TJ, tinha mais autonomia, andava, mas, com o passar do tempo, passei a não ter mais essa autonomia e comecei a ter mais dificuldades. Mas, tanto os colegas quanto os funcionários que não trabalham diretamente comigo são muito acolhedores. É uma rede de apoio muito forte que tenho. Então, para mim, sempre foi possível estar aqui porque sempre tive colegas do meu lado.”
Atuando no projeto “Pai Presente” – que tem o objetivo de facilitar o reconhecimento da paternidade –, a psicóloga diz que sempre se sentiu muito atuante. “Sempre estou participando das atividades. Não me sinto limitada em fazer nada do que eu gosto, que queira fazer e que seja preciso fazer. Realizo o acolhimento das mães que querem que os pais assumam seus filhos, acompanho todas as audiências, faço atividades externas. Sempre busco estar à frente de projetos e iniciativas”, revelou a servidora.
Daniela Bloris atua no projeto Pai Presente
“Sinto que sou incluído de verdade”
Servidor do Tribunal desde 2010, Gilson Gonçalves Josefino tem deficiência visual e está lotado no 3° Juizado Especial Criminal desde que foi aprovado no concurso de Técnico de Atividade Judiciária. Atualmente, é responsável por auxiliar nas audiências de conciliação, realizando as intimações das partes por meio de contato telefônico. Em outubro, completará 15 anos como servidor e fala com orgulho de tudo o que construiu até aqui. “Um homem cego, negro, pobre, filho de um auxiliar de serviços gerais e de uma empregada doméstica que conseguiu se formar em Direito e passar em um concurso para o Tribunal. Para mim, é uma vitória”, compartilhou.
Embora se sinta orgulhoso de suas conquistas pessoais, Gilson também faz questão de enaltecer o apoio que recebeu a partir do início de sua trajetória no Tribunal de Justiça. Ele afirma que não se recorda de ter sofrido qualquer tipo de preconceito desde que passou a integrar o quadro de servidores e reforça o sentimento de inclusão no dia a dia. “Logo que eu entrei, foi feito um trabalho de sensibilização com todo o pessoal do setor, e o Tribunal realiza intervenções com o objetivo de nos incluir. E, na equipe em que eu trabalho, todo mundo se ajuda. Aqui, eu estou ao lado de pessoas que não têm deficiência visual e sinto que sou incluído de verdade”.
Gilson Josefino está lotado no 3° Juizado Especial Criminal desde que foi aprovado no concurso
“A deficiência não vai definir quem a pessoa é”
Edvaldo Lourenço é gestor de projetos e, desde janeiro, faz parte do quadro de colaboradores do Tribunal de Justiça, na Divisão de Escritório de Projetos (Diesp). Atualmente, sua atenção está voltada para as demandas que envolvem o sistema do Processo Judicial Eletrônico (PJE). Até aqui, ele relata que a experiência de trabalhar no Judiciário tem sido dinâmica e muito positiva. “Essa é uma parte muito boa em ser gestor de projetos. Nós estamos sempre discutindo como melhorar nosso trabalho, como proporcionar uma entrega melhor para que os usuários dos sistemas estejam satisfeitos com o resultado e as necessidades do Tribunal sejam atendidas”, contou.
Ele foi diagnosticado com uma síndrome rara que afeta o crescimento de tendões dos membros inferiores, que começou a se manifestar durante sua adolescência. Hoje, com 61 anos de idade, Edvaldo considera que a falta de sensibilidade ainda é um empecilho na inclusão de pessoas com deficiência, mas acredita que eventos como a Ação Social que será promovida pelo TJRJ nos dias 24 e 25 de setembro têm a capacidade de impactar o entorno e transformar dificuldades em oportunidades. “A deficiência não vai definir quem a pessoa é. E esse tipo de interação pode agregar muito a combater os preconceitos, pois é uma oportunidade de unir pessoas e mudar um pouco os estigmas que são impostos pela sociedade”.
Edvaldo Lourenço é gestor de projetos
Tribunal como segunda casa
Thor Kopperud, de 19 anos, não é servidor do Judiciário fluminense, mas aqui ele diz que é a sua segunda casa. O jovem tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, desde a infância, manifesta conexão com a música, esculturas e animação. Ele usa a arte como linguagem principal para se expressar, para o seu equilíbrio emocional e inclusão. Desde abril deste ano, Thor passou a frequentar o TJRJ e participar ativamente de exposições e eventos, compartilhando seu talento, seja em apresentações musicais ou com suas artes em biscuit.
“Thor diz que o TJ é a sua segunda casa e, quando ficar mais velho, quer trabalhar no Tribunal. Está no último ano do ensino médio. É um menino que me falaram que não ia falar, não ia andar de bicicleta. E hoje está aqui, mais uma vez expondo a arte dele. Essa conexão que estamos tendo com o Tribunal de Justiça do Rio é um grande um presente”, contou a mãe de Thor, Roberta Kopperud.
Thor Kopperud, de 19 anos, diz que o TJRJ é sua segunda casa
IA/PB*/SF
*Sob supervisão
Fotos: Brunno Dantas e Felipe Cavalcanti/ TJRJ