Semana de Valorização da Primeira Infância: psicólogas debatem métodos de cuidados com bebês
No quarto dia de atividades da Semana de Valorização da Primeira Infância do Tribunal de Justiça do Rio, a psicóloga Rita Góes Bezerra apresentou, na última quinta-feira, dia 28, a abordagem Pikler, técnica de orientações no cuidado com bebês desenvolvida no século passado por uma pediatra austríaca. Ao comentar sobre o método, a palestrante avaliou o trabalho de abrigos e creches, problematizando a ausência de uma figura confiável para a criança de 0 a seis anos.
“É preciso respeitar o tempo e as reações de um bebê e, principalmente, criar uma relação de parceria com a criança. O problema com os abrigos é que são muitas as pessoas que fazem diversas atividades, dificultando que um vínculo seja criado e o bebê tenha uma referência e um espelho afetivo com uma pessoa”, disse.
A técnica, que também é conhecida como Pikler-Lóczy, é divida em três partes: relação de qualidade nos momentos de cuidados corporais, como banho e alimentação; a atividade livre e espontânea, que respeita os reflexos e sinais corporais do bebê; e a formação de equipe, estimulada a fim de criar fortes laços de confiança entre a criança e o responsável.
Rita disse que a abordagem respeita muito aspectos técnicos e físicos, afirmando que é fundamental que o adulto possa se desprender de alguns preconceitos para que possa respeitar as emoções do bebê. ‘’O movimento empático é o que vai sustentar a relação entre bebê e adulto e este carinho precisa ser sincero por parte dos pais ou cuidadores, para que a criança sofra menos com as mudanças e descobertas”, afirmou a palestrante.
A psicóloga Tatiana Moreira apresentou dados sobre a primeira infância e, em sua avaliação, o Marco Legal da Primeira Infância, aprovado em março deste ano, é indispensável para que uma série de programas, serviços e iniciativas voltadas para valorização e desenvolvimento dos estudos sobre o tema. O Brasil é o primeiro país da América Latina que possui uma lei que contempla esta fase da vida.
No estado do Rio 575 crianças de 0 a seis anos foram acolhidas apenas em janeiro. Na opinião de Tatiana, os problemas que crianças enfrentam ao serem tiradas de suas famílias biológicas, declaradas incapazes de cuidarem de forma adequada delas, precisam ser levados em conta na forma como os profissionais de abrigos cuidam das crianças. “O processo de destituição do poder familiar é duro e muito delicado, e precisa ser bem feito. As crianças que passam por dificuldades nesse período e não recebem o tratamento e atenção adequados nos abrigos podem apresentar distúrbios quando crescerem. É fundamental que as creches e instituições de acolhimento ofereçam para seus profissionais os métodos que mais respeitem as crianças”, destacou a psicóloga.
Aline Diniz exibiu o vídeo de um experimento de privação da criança em relação a mãe para mostrar o quanto a presença carinhosa da figura materna é importante para o desenvolvimento da criança. Para a psicóloga, o afeto materno desempenha grande importância nos primeiros anos de vida de uma criança e é preciso muita dedicação dos pais nas atitudes dos bebês. Ela elogiou a iniciativa do Tribunal de Justiça do Rio em criar uma semana de reflexões sobre o tema, afirmando que discussões sobre a primeira infância têm grande importância não só para o avanço na questão, como também para respeitar as crianças de 0 a seis anos. “Estas atividades que o Tribunal abrigou desde segunda-feira são muito importantes para que a discussão sobre a primeira infância possa nos ajudar a evoluir neste tema, que ainda não é muito claro. Espero que este ciclo renda bons frutos, é um investimento bonito e interessante”, declarou.
A juíza Raquel Chrispino, responsável pela Coordenadoria Judiciária de Articulação das Varas da Infância, Juventude e Idoso (CEVIJ) do TJRJ destacou a presença de pessoas com significativos estudos na área na Semana de Valorização da Primeira Infância e agradeceu pela oportunidade de poder conversar sobre um assunto que respeita as crianças e pode evoluir ainda mais no Brasil.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) vai lançar na sexta-feira, dia 29, o Projeto de Valorização da Primeira Infância. O objetivo é chamar atenção para os direitos e as necessidades das crianças, principalmente nos primeiros anos de vida, e estimular a criação de políticas públicas voltadas para o tema. O projeto vai integrar o plano estratégico do TJRJ e será incluído nas metas de atuação da administração do Judiciário fluminense, que vai destinar um orçamento fixo à iniciativa, possibilitando o desenvolvimento mais aprofundado de práticas relativas à questão.
JGP / SF