Ao apagar das luzes do século XX, uma série americana tratou de um assunto que, passados mais de 20 anos, continua a assolar nossa sociedade: o estigma da pessoa que apresenta transtorno mental¹. Seu personagem central, o chefe da máfia local, sofre de síndrome do pânico e depressão. Logo no primeiro episódio, em uma consulta com sua psiquiatra, o personagem coloca em sua fala a demonstração do estigma de que um homem forte e poderoso como ele não poderia precisar de tratamento psiquiátrico:

Deixe-me te dizer uma coisa. Hoje em dia, todo mundo tem que ir para psiquiatras, e orientadores, e falar com “Sally Jessy Raphael” ² e falar sobre seus problemas. O que aconteceu com Gary Cooper? O tipo forte e silencioso [...] (grifo próprio)³

Ao referir-se ao tipo masculino forte e silencioso, que não precisa de apoio externo, em especial de um profissional de saúde mental, o protagonista desvela seu medo de ser visto como fraco. Essa percepção faz com que, durante a trama, ele esconda a terapia, permitindo que apenas seu núcleo familiar tome conhecimento.

O que se apresenta é o chamado autoestigma, ou seja, a incorporação inconsciente de uma crença sustentada na sociedade, pela qual as pessoas que apresentam a condição estigmatizada são inferiorizadas⁴. O estigma faz com que muitos deixem de buscar ajuda ou não permaneçam em seus tratamentos de saúde mental, a fim de evitar serem rotuladas como doentes mentais e todas as consequências que isso possa acarretar⁵.

Intrigante notar que, cotidianamente, recebemos informações sobre os mais diversos tipos de doença, mas, apesar do impacto que causa na sociedade, as doenças mentais não são assim tão difundidas⁶, o que contribui para a manutenção do estigma. Diante disso, é que a data de 10 de outubro torna-se tão relevante.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu o dia 10 de outubro como o Dia Mundial da Saúde Mental, a fim de ampliar a consciência acerca do tema e mobilizar esforços para apoiar a saúde mental. Mas o que podemos fazer como indivíduos para atingir tal objetivo?

O fundamental é compreendermos que, tal qual acontece com as doenças físicas, também estamos suscetíveis às doenças mentais e, como enunciado na canção “Ciranda da Bailarina”⁷:

Procurando bem / Todo mundo tem pereba /Marca de bexiga ou vacina /E tem piriri /Tem lombriga, tem ameba/ Só a bailarina que não tem [...]

Sala sem mobília / Goteira na vasilha / Problema na família quem não tem?

Para saber mais sobre o tema acesse Palestra e ações marcam setembro amarelo no TJRJ

Referências

1. ADORO CINEMA. Família Soprano. HBO. Disponível em https://www.adorocinema.com/series/serie-75/video-19564575/
2. IMDB. Sally Jessy Raphael TV Series. Disponível em https://www.imdb.com/title/tt0088598/
3. ICHI.PRO. O que aconteceu com Gary Cooper, o tipo forte e silencioso? Disponível em https://ichi.pro/pt/o-que-aconteceu-com-gary-cooper-o-tipo-forte-e-silencioso-69996355534580.
4. CORRIGAN, P.W. (2004). c. The American psychologist, 59 7, 614-625.
5. PRADO, Alessandra Lemes. BRESSAN, Rodrigo Affonseca O estigma da mente: transformando o medo em conhecimento. Rev. Psicopedagogia 2016; 33 (100): 103-9.
6. FERREIRA, Marcela dos Santos. CARVALHO, Maria Cecília de Araújo. Estigma associado ao transtorno mental: uma breve reflexão sobre suas consequências. RIES, ISSN 2238-832X, Caçador, v.6, nº 2, p. 192-201, 2017.
7. LETRAS. LOBO, Eduardo de Góes. HOLANDA, Francisco Buarque. Ciranda da    Bailarina. Disponível em https://www.letras.mus.br/chico-buarque/85948/.

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