Palestra “Negro é cor, é voz, é inspiração: a raça que construiu a nação!” fala da importância de pessoas negras na construção e desenvolvimento do Brasil
A Secretaria Geral de Sustentabilidade e Responsabilidade Social (SGSUS) do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) realizou, na tarde de quarta-feira (23/11), uma palestra para os participantes de seus projetos sociais com o tema “Negro é cor, é voz, é inspiração: a raça que construiu a nação!”. O evento ocorreu no Auditório Desembargador José Navega Cretton, no 7º andar da Lâmina I do Fórum Central e deu destaque à grande contribuição de pessoas negras na construção e desenvolvimento do Brasil.
O secretário-geral de Sustentabilidade e Responsabilidade Social do TJRJ, Antônio Francisco Ligiero, abriu o encontro destacando a colaboração dos negros na construção da nação: “A raça negra, sim, construiu esse Brasil, porque até antes, infelizmente, da mazela que foi a escravidão para o Brasil, nós vivíamos aqui uma situação de estagnação. Então eu gosto de fazer essa correção porque, na verdade, foi a raça negra, trazida infelizmente de uma fonte escravizada, que construiu esse país”. O diretor do Departamento de Sustentabilidade, Luiz Felipe Fleury Corrêa e a diretora do Departamento de Acesso à Justiça, Ação Social e Acessibilidade (DEAJU) Andrea Christina Vaz Barbosa também fizeram parte da mesa de abertura.
Entre os membros da plateia, estavam mais de 100 integrantes dos projetos sociais “Inclusão Legal”, “Jovens Mensageiros”, “Começar de Novo” e “Justiça pelos Jovens”. Para aprofundar a discussão sobre o assunto, o professor Pedro Henrique Nascimento de Oliveira, especialista em ensino de história pela UFRJ, começou citando a escritora afro-brasileira Conceição Evaristo, ao declarar que mais do que falar dessas pessoas negras é preciso ler, conhecer e ouvir as próprias pessoas.
Pedro declarou que um dos grandes problemas do ensino da história do Brasil nas escolas é que não se ensina sobre os reinos africanos nos quais os escravos eram sequestrados, sendo que tinham diversos tipos de organização, tecnologias, ciência como aqui. “Por que havia risco deles se revoltarem? Porque havia alguma organização. Se fossem pessoas que foram pegas do nada na África, pessoas sem instrução, pessoas sem conhecimento, eles não iriam se organizar, não haveria risco. Se tinha risco deles se organizarem, de fazer uma revolta, é porque eles foram sequestrados e trazidos da África dentro de uma lógica de organização. Esse é um grande problema da nossa história na escola, que às vezes passa pelos gênios africanos, dos quais nós assimilamos várias coisas, como se não fosse algo que já tivesse vida, já tivesse uma forma, um jeito de ser”.
O professor apresentou quatro personagens históricos para pontuar a proposta da palestra de ter em quem se mirar, ter em quem olhar para trás e demonstrar a importância das contribuições de pessoas negras para a história do país.
João Cândido Felisberto
João Cândido Felisberto, também conhecido como "Almirante Negro", foi um militar da Marinha de Guerra do Brasil e líder da Revolta da Chibata. A revolta foi uma rebelião ocorrida na Marinha brasileira entre 22 e 27 de novembro de 1910, em protesto contra os castigos físicos que os militares de baixa patente recebiam.
Os marinheiros rebelaram-se e tomaram o controle de diversos encouraçados da Marinha: Minas Gerais, São Paulo, Bahia, além do navio-patrulha Deodoro. Após tomarem o controle das embarcações, eles enviaram um ultimato às autoridades, que caso não fosse decretado o fim dos castigos físicos, a Cidade do Rio de Janeiro seria bombardeada. Depois de seis dias de impasse, eles tiveram suas reivindicações atendidas – a punição com chibatadas foi extinta –, mas, pouco tempo depois, quase todos foram presos ou mortos.
Carolina Maria de Jesus
Se trata de uma das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira. Apesar de ter tido apenas dois anos de estudo formal, tornou-se escritora e ficou nacionalmente conhecida, em 1960, com a publicação de seu livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada", onde relata o seu dia a dia na favela do Canindé, na Cidade de São Paulo. Como o próprio subtítulo diz, o livro traz as memórias de uma mulher negra e favelada que via a escrita com uma forma de escapar de sua invisibilidade social.
Adhemar Ferreira da Silva
O “Canguru Brasileiro” foi um dos maiores nomes da história do esporte brasileiro. Foi o primeiro atleta olímpico brasileiro a receber a medalha de ouro em atletismo e se tornou o primeiro bi-campeão olímpico do Brasil ao alcançar o primeiro lugar nas Olimpíadas de 1952 e 1956. Nas Olimpíadas de Helsinki, Finlândia (1952), conquistou a medalha de ouro ao bater o recorde olímpico e estabelecer duas novas marcas mundiais: 16,12m e 16,22m.
Ele também inventou uma comemoração que hoje pode ser vista em todos os lugares do mundo após uma conquista: a volta olímpica. Após receber a Medalha de Ouro do Salto Triplo nos Jogos de 1952, em agradecimento às palmas do público, ele correu em torno do gramado acenando para as arquibancadas.
Lélia Almeida González
Lélia de Almeida Gonzalez é um dos principais nomes da filosofia e sociologia brasileira, especialmente nas discussões sobre relação entre gênero e raça. Ela também foi uma das ativistas mais importantes da história do movimento negro brasileiro, tendo sido uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN). Até hoje, Lélia é referência para diversos coletivos antirracistas e organizações feministas no Brasil.
A diretora da Divisão de Ação Social e Acessibilidade, Marcia Fayad encerrou o encontro ressaltando a importância do tema e o valor da palestra: “Com certeza, todos nós vamos sair daqui mais fortalecidos, orgulhosos da raça negra e lutando para que, cada vez mais, a gente tenha espaço, voz e reconhecimento”.
*VDM/FS
*Estagiário sob supervisão SP