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Magistradas e jornalistas debatem o trabalho da imprensa na divulgação de notícias sobre violência contra a mulher
Notícia publicada por DECOI - TJRJ em 05/12/2023 14:02

A Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (COEM), promoveu, nesta segunda-feira (04/12), o evento “Mídia, Mulher e Justiça”. Foram debatidas questões como o papel do jornalista na divulgação de notícias sobre a violência doméstica contra a mulher. O encontro de magistradas e jornalistas abordou o tema “Mídia, Mulher e Justiça”, no Salão Histórico do I Tribunal do Júri, no Museu da Justiça.

“O papel da imprensa é fundamental na divulgação desse fenômeno que é a violência contra a mulher, mas é importante que essa divulgação respeite os limites éticos. Esperamos que imprensa possa divulgar a rede de apoio, esclarecer que a violência é fruto das desigualdades de poder nas relações, do machismo, do patriarcado. O papel da imprensa também é de serviço público”, ressaltou a desembargadora Adriana Ramos de Mello, coordenadora da COEM.

A desembargadora ainda falou sobre a responsabilidade dos jornalistas: “A imprensa também tem o papel de cobrar políticas públicas para prevenir a violência contra a mulher. Assim como um Judiciário independente e autônomo, uma imprensa livre, respeitosa e ética é importante para podermos avançar em direção a uma sociedade mais humanizada”.

A coordenadora da COEM abriu o evento ao lado das juízas Elen barbosa e Luciana Fiala; e das jornalistas Fernanda da Escóssia (Aos Fatos), Vera Araújo (O Globo) e Vitória Régia da Silva (Associação Gênero e Número), que participaram presencialmente.

Vera Araújo, jornalista investigativa e autora do livro “O Plano Flordelis: Bíblia, filhos e sangue”, explicou que as notícias sobre a violência contra as mulheres podem ajudar a evitar mais vítimas: “É importante que a vítima nos conte o que passou para que outras mulheres se inspirem no caso dela e ganhe forças para denunciar o agressor, saindo do ciclo da violência. É importante também que a imprensa divulgue onde a mulher pode procurar ajuda, mostre que a Justiça tem um trabalho exemplar, com um olhar humanizado. Temos que divulgar os serviços disponíveis”.

Vitória Régia da Silva, vice-presidente da organização de mídia Gênero e Número, pontuou a importância de coberturas humanizadas: “Nós viemos de uma tradição em que as mulheres era revitimizadas pela mídia. Essa não é a função do jornalismo. Eu acredito que quando as mulheres têm mais presença e assumem posições de poder no jornalismo, conseguimos ver a diferença, com coberturas mais humanizadas, que não reforçam a violência contra as mulheres vítimas”.

 

                                                   

Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues, autoras do livro “Histórias de morte matada contadas feito morte morrida - a narrativa de feminicídios na imprensa brasileira", participaram on-line. O livro é baseado em uma ampla pesquisa feita pelas autoras em 40 anos de cobertura de casos de feminicídio na imprensa brasileira, demonstra como as notícias a respeito dos crimes contra mulheres no país são veiculadas com manchetes tendenciosas e inaceitáveis, mas mostra que pode ser diferente.

Ao final do encontro, houve o lançamento do livro “Invisíveis – Uma etnografia sobre brasileiros sem documento”, de Fernanda da Escóssia, editora executiva do site Aos Fatos e professora da Uerj. O livro é o resultado da pesquisa de doutorado da autora que, durante três anos, acompanhou o trabalho da emissão de documentos da Justiça Itinerante. A pesquisa mostrou que cerca de três milhões de brasileiros não têm certidão de nascimento e que muitas dessas pessoas são mulheres. “A pesquisa mostra como a violência de gênero é um componente importante para essas mulheres, que muitas vezes se desdobra em violência doméstica. Muitas vezes o agressor toma os documentos da mulher para evitar que ela procure ajuda”, disse Fernanda da Escóssia.

 

Fotos: Rogério Brito
Departamento de Comunicação Interna