Julgamento Flordelis: Testemunhas de defesa começaram a ser ouvidas na quinta-feira (10/11)
O quarto dia do julgamento de Flordelis no Tribunal do Júri de Niterói foi marcado pela ausência da ex-parlamentar durante a maior parte da sessão. Flordelis pediu para não assistir aos depoimentos das filhas afetivas Roberta dos Santos, Rebeca Vitória e Érica dos Santos, todas testemunhas de acusação.
Roberta, a primeira a falar, disse ter certeza de que “o pastor estaria vivo se Flordelis o quisesse vivo”, pois nada acontecia na casa sem a vontade dela. Rebeca, por sua vez, afirmou ter visto as rés Simone e Rayane escondendo celulares na casa, num momento em que chegava a polícia, no dia seguinte ao crime.
Em seu depoimento, Rebeca, que é sobrinha biológica de Anderson, contou que uma advogada chamada Paula Barros teria treinado ela e outras testemunhas para os depoimentos que dariam na Delegacia de Homicídios, com o intuito de que seus depoimentos fossem favoráveis à Flordelis.
Todas negaram que houvesse qualquer tipo de abuso sexual dentro da casa e afirmaram que Anderson cuidava de tudo o que dissesse respeito à Flordelis, como aparência, saúde, bem-estar etc.
A quarta pessoa a falar foi Thayane Dias, dando início aos depoimentos das testemunhas de defesa. Nesse momento, Flordelis voltou ao plenário e passou a acompanhar os depoimentos.
Thayane disse que soube por Lucas que Marzi, uma das rés, estava planejando matar o pastor, porém não acreditou. Assim como as outras testemunhas de hoje, Thayane confirmou que havia, na casa, acompanhamento e fiscalização das varas da Infância e Juventude em relação aos menores que ali viviam. Contou também que Misael, filho afetivo de Flordelis, queria ser candidato a deputado estadual, mas Anderson não concordara. A família, então, se uniu para eleger Flordelis deputada federal, enquanto Anderson continuou não concordando com uma eventual candidatura de Misael, o que causava desentendimentos entre eles.
Declarou, ainda, que não viu, na época em que morava na casa, abusos cometidos por Anderson contra alguma das filhas, mas que hoje ela enxerga que houve abusos e que sua opinião havia mudado após o assassinato do pastor.
Juíza indefere pedido de exumação do corpo do pastor Anderson do Carmo
Na noite desta quinta-feira (10/11), a juíza Nearis dos Santos Carvalho, da 3ª Vara Criminal de Niterói, indeferiu o pedido da defesa para que o corpo do pastor Anderson do Carmo fosse exumado para testes de arsênico e cianeto. O pedido foi apresentado já no fim do quarto dia do julgamento do Caso Flordelis, após o depoimento do perito criminal e especialista em medicina legal Sami Abder El Jundi.
Arrolado como testemunha de defesa, o especialista analisou o laudo de necropsia de Anderson, o qual julga conter erros. De acordo com Sami, o documento erra ao indicar que, por causa dos múltiplos ferimentos, não era possível indicar quais eram os buracos de entrada e saída das balas. O perito afirmou que as fotos da necropsia mostram 24 perfurações, diferente das 30 apontadas no mapa de lesões.
Sobre as alegações de tentativas de envenenamento contra o pastor ao longo dos anos, Sami afirmou que os remédios tomados por Anderson quando internado trataram apenas dos sintomas e de ansiedade, e não são usados para fortes intoxicações.
Antes de Sami também depuseram mais duas testemunhas indicadas pela defesa. O oncologista Diogo Gomes falou brevemente na sessão. Ele fez um panorama sobre o tratamento que fez em Simone Santos, filha de Flordelis, entre os anos de 2016-2018, para um melanoma de pele.
Em seguida falou o desembargador do TJRJ Siro Darlan. O magistrado contou que, assim que assumiu a titularidade da Vara da Infância, fez cumprir um mandado de busca e apreensão expedido pelo seu antecessor para avaliar a situação de mais de 20 crianças que moravam com uma mulher em situação precária no Jacarezinho. Por questões de segurança, o mandado não pode ser cumprido.
Um tempo depois ele foi procurado pelos empresários Carlos e Pedro Werneck, que apresentaram a ele ideias para ajudar aquela mulher. Darlan então visitou Flordelis em seu novo endereço, na Avenida Paulo de Frontin, e constatou que as crianças estavam em situação melhor e bem cuidadas, mas determinou investigações sobre a origem e a guarda das crianças.
Em seu depoimento, o desembargador disse não se recordar de ter feito processos de adoção com Flordelis enquanto atuava na primeira instância e lembrou que ele recomendou que ela não entrasse na política. Ele disse ter, então, ajudado posteriormente a elaborar leis para crianças e adolescentes. Flordelis deixou a sala do júri chorando e não retornou até o fim da sessão.