Julgamento Flordelis: depoimentos das testemunhas de defesa terminam nesta sexta-feira (11/11)
O quinto dia do julgamento da ex-deputada federal Flordelis teve início, nesta sexta-feira (11/11), com o depoimento de dois peritos indicados pela defesa, que traçaram o perfil psicológico de Flordelis, de sua filha afetiva Marzi da Silva e de sua neta Rayane dos Santos.
O psicólogo forense Sidnei Filho falou sobre as consequências da violência doméstica em crianças. A defesa exibiu vídeos com depoimentos de Ramon Oliveira, filho de Simone, uma das rés; e de Michelle, filha adotiva de Flordelis, narrando episódios de violência física e sexual feitas pelo pastor Anderson na casa em que todos moravam.
O psiquiatra forense Hewdy Lobo disse ter realizado uma avaliação de perfil criminal nas três rés (Flordelis, Marzy e Rayane) através de uma entrevista pessoal realizada com uma de cada vez. Sua conclusão foi de que nenhuma delas possui personalidade psicopata que indique propensão à realização de um crime de homicídio. Questionado pela juíza Nearis Arce dos Santos, que preside o julgamento no 3º Tribunal do Júri de Niterói, o psiquiatra explicou que o laudo não exclui essa possiblidade, apenas aponta que não há uma tendência para o crime. Ele apontou, ainda, que Flordelis possui diversos transtornos mentais, como depressão grave, transtorno de personalidade dependente e de estresse crônico.
Depois, foram ouvidos os filhos afetivos de Flordelis Érica Dias e Douglas de Almeida Ribeiro. Ela mencionou um episódio em que teria presenciado o pai Anderson do Carmo assediando uma das irmãs no quarto em que dormiam, a acariciando, e que começou a se mexer para ele ver que ela estava ali, se assustar e sair, o que teria acontecido. Sobre a relação dos pais, Érica contou que Anderson colocava Flordelis num pedestal. Que, para ele, a mãe era uma deusa e que ela, para retribuir, estava sempre disposta e submissa ao marido. Já Douglas Ribeiro contou que foi morar com a família, entre 2015 e 2016, trabalhou como assessor parlamentar em Brasília, que dirigia, acompanhava nas sessões e fazia tudo que Flordelis precisava. Acrescentou que já viu Anderson tentando abraçar e agarrar Simone que o teria repelido.
Em seguida, prestou depoimento Marcos Silva de Lima, ex-namorado de Simone. Ele disse que se aproximou da ré pelo Facebook e que começaram a namorar em 2017. Contou que perdeu um filho em 2014 e tinha trauma em relação a criança. Ao perceber isso, Simone teria sugerido que ele apadrinhasse um menor que vivia com a família e ele resolveu pagar uma festa para o menino. No dia da festa, no entanto, Simone teria ligado chorando e pedindo que ele não fosse ao evento porque o padrasto dela não queria. Um tempo depois, o próprio Anderson teria ligado para ele dizendo que não era para Marcos ir à festa e dizendo que ressarciria o que ele havia gasto com a comemoração. A testemunha informou ainda que, depois disso, preferiu terminar o relacionamento amoroso com Simone mas que mantiveram a amizade e que ela relatou um episódio em que Anderson teria tentado agarrá-la no banheiro e que, em outra ocasião, ela chegou com o olho roxo na casa dele e disse que se machucou ao tentar separar uma briga entre o padrasto e a mãe.
No penúltimo depoimento da noite, Lorrane dos Santos Oliveira, neta da Flordelis e do pastor Anderson do Carmo, disse que foi assediada pelo avô e que, certa vez, em um domingo, quando estava indo para a igreja de carro, o pastor tentou entrar em um motel sob o pretexto de que eles iriam almoçar. Ela disse, então, que reagiu, se negando e falando que, se ele entrasse com o carro, ela ligaria para Flordelis. Lorrane também contou sobre outros assédios cometidos pelo pastor contras outras meninas da casa. Ela disse que a mãe, Simone, também ré no processo, sempre falava com ela para não ficar sozinha com o avô. E que ela não entendia a razão, até ter acontecido a tentativa do motel. Indagada sobre o motivo de não ter relatado a Flordelis sobre o assédio, Lorrane disse que não contou “porque ela era muito apaixonada por ele”.
Última testemunha a prestar depoimento, Rafaela dos Santos Oliveira, também neta da Flordelis e do pastor Anderson, relatou o abuso que sofreu do avô, em 2018, durante o período de férias, quando ele teria começado a tocá-la nos pés, subindo até as partes íntimas. Disse que ficou traumatizada e que “nunca tive coragem de para ninguém.” Rafaela disse, também, que se aproximou muito da avó, Flordelis, após o crime. E que, somente depois de quatro meses da morte do pastor, conseguiu falar com ela sobre o abuso que sofreu. Disse que Flordelis chorou muito, pediu perdão e perguntou por que ela não havia contado antes.
Neste sábado, a partir das 10 horas, a sessão de julgamento prossegue, com os interrogatórios dos cinco réus. Em seguida, começa a fase de debates entre a acusação e defesas dos réus. Após essa fase, o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri de Niterói irá se reunir em uma sala secreta para deliberação, quando, então, a juíza Nearis Arce dos Santos irá proferir a sentença.
Desde segunda-feira (7/11) até hoje (11/11) foram ouvidas 24 testemunhas, sendo 13 de acusação (os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte, Regiane Ramos, o inspetor Tiago Vaz, os filhos de Flordelis Alexsander Mendes, Wagner Pimenta, Daniel de Souza, Daiane de Freitas, Roberta dos Santos, Rebeca Vitória e Érica dos Santos, a nora Luana Pimenta e a neta Raquel dos Passos) e 11 de defesa (os filhos afetivos Thayane Dias, Érica Dias e Douglas Ribeiro; o perito criminal e especialista em medicina legal Sami Abder El Jundi, o oncologista Diogo Gomes, o desembargador Siro Darlan, o psicólogo forense Sidnei Filho, o psiquiatra forense Hewdy Lobo, Marcos Silva e as netas de Flordelis Lorrane Oliveira e Rafaela Oliveira.