Julgamento Flordelis: 6º dia é marcado pelo interrogatório dos réus e início dos debates
Após cinco dias com depoimentos de 24 testemunhas, entre acusação e defesa, o julgamento da ex-deputada federal Flordelis e de mais quatro réus entrou no seu sexto dia no Tribunal do Júri de Niterói. A manhã deste sábado (12/11) foi marcada pelo interrogatório de Flordelis, do filho adotivo André Luiz de Oliveira e da neta Rayane dos Santos Oliveira.
O júri é presidido pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce dos Santos. Além dos três acusados, estão sendo julgados a filha biológica da ex-deputada, Simone dos Santos Rodrigues e a filha afetiva Marzy Teixeira da Silva.
O primeiro a ser interrogado foi André Luiz. Por pedido da defesa, o réu só respondeu perguntas dos seus advogados e dos jurados.
Questionado se presenciou alguma agressão física de Anderson do Carmo em Flordelis, André disse que não, ressaltando apenas que o pastor era muito rígido nas palavras.
“O pai tratava minha mãe como uma rainha. Ele era o responsável por produzir a imagem dela. Comprava peruca, cuidava dos dentes, escolhia as roupas. Ela só fazia alguma coisa com a orientação do meu pai. Com quem poderia falar, se aproximar, ficar perto”, explicou.
Perguntado se ele sabia de algum plano para matar o pastor, André contou que soube do assunto pelo próprio Anderson.
“Ele disse do plano para matá-lo, mas não disse como soube e quem queria fazer isso. Depois eu soube na casa onde morávamos que Lucas e Marzy planejavam a morte dele.”
Flordelis chora em interrogatório e fala dos abusos que teria sofrido de Anderson
A segunda a falar foi Flordelis. Por cerca de 40 minutos, a ex-deputada também só respondeu perguntas dos advogados e jurados. Entre muito choro e pausas para concluir as frases, ela deu detalhes dos abusos que teria sofrido do pastor Anderson do Carmo.
“Amava muito meu marido, ele era tudo na minha vida. O casamento era muito bom. Depois de um tempo ele começou a me bater. Alguns filhos presenciaram. Depois que ele me bateu na frente do pastor Abilio Santana e ele intervir e conversar com Anderson, ele nunca mais me bateu”, contou.
Flordelis disse ainda que, depois de um tempo, o marido passou a ficar agressivo quando o casal tinha relações sexuais.
“Ele só tinha prazer se me machucasse. Eu acreditava que era pelos problemas familiares que tinha passado, então me sujeitava a isso, era submissa. Foi assim que minha mãe me ensinou e o que eu achava que era certo.”
Perguntada sobre quais atitudes que tomava sobre a submissão aceita por ela, Flordelis respondeu que orava muito e pedia para Deus para que os abusos cessassem.
“Tinha convicção que aquilo ia passar.”
Flordelis encerrou seu interrogatório dizendo ser inocente.
“Não mandei ou pensei em matar meu marido. Estou na cadeia pagando por algo que não fiz. Está muito difícil.”
Neta também fala sobre abusos de Anderson do Carmo
A terceira a falar foi Rayane dos Santos Oliveira, filha adotiva de Simone e neta de Flordelis e Anderson do Carmo.
A mulher, que morava com os avós em Brasília, contou que, após a morte do pastor, entendeu que o que Anderson fazia com ela era abuso.
“Hoje entendo que passar a mão em mim, bater na minha bunda era abuso. Em Brasília acordei com o pastor em cima de mim, passando a mão no meu corpo. Quando me virei, ele deu um beijo na minha testa e foi trabalhar”, detalhou.
Perguntada sobre o motivo de não ter contado sobre o caso para alguém, Rayane explicou que tinha medo de perder a oportunidade que estava tendo de morar em Brasília, da vida que o pastor estava proporcionando.
“Só contei para minha mãe depois da morte dele.”
Indagada sobre a qualidade de cada um dos avós, Rayane disse que admirava Flordelis por sua fé e otimismo e Anderson pela inteligência, que, segundo ela, foi fundamental para que família conquistasse tudo que alcançaram.
O quarto interrogatório foi de Marzy Teixeira. Ela admitiu que havia combinado com Lucas, seu irmão e já condenado em um processo desmembrado, por envolvimento no assassinato de Anderson do Carmo, o crime. Segundo ela, a ideia era cometer o crime de forma que parecesse um latrocínio. Ela disse ter criado um plano, não ter executado, mas que alguém o concluiu.
Marzy contou que foi abusada ainda quando criança pelo irmão de sua avó biológica e que, anos após ser convidada a morar com Flordelis e Anderson, o pastor começou a assediá-la enquanto fazia tarefas domésticas. A ré afirmou que outras meninas da casa começaram a ter um comportamento estranho perto de Anderson, relatando abusos cometidos contra Simone e um episódio de agressão contra Flordelis.
Segundo Marzy, Anderson era o responsável por administrar as contas da casa e ela era obrigada a dar metade de seu salário para Misael, que então repassava para o pastor. Ao responder às perguntas formuladas pelos jurados, Marzy disse que um homem abusador merece a morte e que, apesar de o melhor a se fazer em casos de abuso seja denunciar, no momento de raiva, ela decidiu matar.
A última ré a falar foi Simone Santos, filha biológica de Flordelis. Ela explicou que namorou Anderson na adolescência e só anos depois ele foi se envolver com a ex-deputada, que jamais soube do namoro dos dois. Simone afirmou que, desde jovem, ele era grosso e tinha atitudes possessivas.
Ela também ressaltou o papel de Anderson como administrador da casa e da carreira de Flordelis. Simone disse que ele utilizava o dinheiro para manipular as pessoas, ameaçando de bloquear mesadas e auxílios caso os familiares não cumprissem com os acordos estipulados.
Ao falar sobre o comportamento de Anderson, ela denunciou que ele a estuprou uma vez e chegou a abusar de sua filha em outra oportunidade. Ela contou que ouviu boatos sobre planos de matá-lo, mas que nunca participou ou se interessou, apesar de sentir desprezo por ele. Chorando, Flordelis deixou a sala no meio do depoimento.
Às 18h40, o Ministério Público deu início aos debates.