Conversas no Museu debate violência doméstica e de gênero
O Brasil é o país que mais mata transgêneros e homossexuais no mundo. A triste e preocupante estatística foi apresentada pela advogada e professora Giowana Cambrone, na edição do “Conversas no Museu- o papel do Direito na defesa das minorias sociais” realizada nesta terça-feira (30/05). O debate, mediado pela psicóloga Maria Augusta Fischer, contou também com a participação da escritora Cristina Biscaia.
Maria Augusta disse que a proposta do evento era promover uma conversa entre os presentes sobre o relevante tema. Em sua fala, a psicóloga destacou a necessidade de acolher e proteger não apenas a mulher vítima, mas também a sua família, que se encontra “adoecida” em função da violência.
“Já atendi diversas crianças que apresentam sintomas traumáticos devido à violência que presenciaram em casa. A mãe, nesse caso, é uma mulher que não está bem, não dorme, não come. A autoestima, o autoamor dessa mulher, está arruinado”, considerou.
A escritora Cristina Biscaia é autora do livro “O poder do autoamor”. Ela destacou que, por muitos anos, a mulher era tratada como um “acessório” no universo masculino.
“O lugar dela era secundário. A mulher não era protagonista de sua própria vida, ela era ensinada a servir. Por isso, a mulher se sentia valorizada somente se estivesse em uma relação amorosa. E muitas mulheres, ainda hoje, vivem nessa condição, ou seja, se mantém em uma relação doentia por receio de ficarem sozinhas”, explicou.
De acordo com a escritora, o autoamor é fundamental para que mulheres nessa situação consigam sair de relações tóxicas.
“Se uma mulher tem uma autoestima estruturada, ela não aceita a situação. O autoamor é uma caminhada. É um processo contínuo, não é uma pílula mágica. Nenhuma relação que tira sua paz, seu valor, vale a pena”, pontuou.
Em sua fala, Giowana Cambrone contou que, quando atuava como advogada no programa estadual “Rio sem homofobia”, atendeu muitos casos de adolescentes que sofriam agressões, cárcere privado e exorcismos por iniciativa dos próprios pais.
“Sou uma mulher trans. Desde tenra idade, todos nós identificamos nosso gênero. No entanto, quando pessoas trans evidenciam sua identidade de gênero, começam a ser vítima de violências. Essas práticas minam o amor próprio, porque as outras pessoas não nos aceitam. O modelo educacional não acolhe, a família rejeita”.
Giowana, que também é vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/RJ, declarou que estima-se que cerca de 90% das mulheres trans no Brasil vivam da prostituição.
“A grande problemática é que se trata de uma prostituição compulsória. Não é uma escolha e sim uma questão de sobrevivência. Muitas vezes é o caminho que resta”, avaliou.
Presente na plateia do evento, o presidente da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj) no biênio 2019-2020, desembargador André Gustavo Corrêa de Andrade, destacou a participação masculina no evento.
“Acho importante que homens estejam aqui, pois é preciso que ouçam e debatam esse tema. Todos nós podemos mudar, evoluir. Quanto olho para trás, vejo o quanto já aprendi, o quanto estudei”.
Ao final, os debatedores responderam dúvidas da plateia. Em seguida, foram sorteados dois livros entre os presentes: “O poder do autoamor”, de Cristina Biscaia, e “Crônicas da Quarentena”, organizado por Eduardo Barbosa, que traz Cristina Biscaia e Siléa Macieira, diretora do Museu da Justiça do Rio, como cronistas.
O evento foi realizado na Sala Multiuso, do Museu da Justiça do Rio. O objetivo é promover um espaço de diálogo, aproximação e conscientização, por meio de encontros lúdicos e conteúdos didáticos, sobre temas relacionados às minorias sociais.
MG/FS