Aula Pública destaca legado de Mestre Valentim para o Rio de Janeiro
Professor Deivid Valério Gaia ministra quinta aula pública da série Museu Convida
Na semana em que o Brasil celebrou o Dia Nacional do Patrimônio Histórico Cultural, no 17 de agosto, e, em pleno Dia do Historiador, comemorado na terça-feira, 19 de agosto, o Museu da Justiça realizou a quinta aula pública da série Museu Convida. Desta vez, o encontro teve como tema “O Rio de Janeiro de Mestre Valentim: recepção da Antiguidade e alegoria racial no Chafariz das Marrecas”, discutindo o legado do escultor com uma palestra conduzida pelo professor associado de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Deivid Valério Gaia.
Ao falar da herança cultural de Mestre Valentim, o historiador destacou como, por muito tempo, ele foi retratado de forma deturpada pelos livros de história. “Falar do Mestre Valentim, além da questão do patrimônio, também tem a questão racial, porque foi um artista negro importante do século XVIII, talvez um dos mais importantes da história da arte do Rio de Janeiro na época colonial. Durante muito tempo, ele foi embranquecido ou a sua questão racial negra foi negada. Então, levantar essa questão hoje em dia é primordial diante dos temas que nós temos debatido na sociedade brasileira atualmente”, afirmou.
No decorrer da palestra, Gaia também se aprofundou nas possíveis inspirações de Valentim para o chafariz, nas estátuas dos personagens da mitologia grega Eco e Narciso, que o adornavam, e diversas outras especificidades de sua história. Ao final, deixou um alerta. “Se nós não nos conscientizarmos com relação ao valor do nosso patrimônio, da nossa história, no futuro, nós seremos um povo sem história”, declarou.
Quem foi Mestre Valentim?
Nascido como Valentim da Fonseca e Silva, em Serro, Minas Gerais, em 1745, Mestre Valentim foi um dos principais artistas do Brasil colonial, tendo atuado como escultor, entalhador e urbanista no Rio de Janeiro que, na época, era a capital do Vice-Reino do Brasil.
Durante a gestão do vice-rei, Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, entre 1779 e 1790, ele foi o principal construtor de obras públicas da cidade do Rio de Janeiro nas áreas de saneamento, abastecimento e embelezamento urbano. Construiu o Passeio Público, primeiro jardim de lazer carioca, e o próprio Chafariz das Marrecas.
Amplamente reconhecido, Mestre Valentim ocupa na história da arte brasileira um lugar de transição, no qual artista e técnico-artesão, passado e futuro, arte religiosa e laica, barroco e rococó, espírito clássico e nativista convivem em harmonia em sua obra.
VM/SF
Fotos: Felipe Cavalcanti/ TJRJ