Poder Judiciário atende pessoas em situação de rua na Catedral Metropolitana
Da esquerda para a direita: o corregedor do TRF2, desembargador Firly Nascimento; o corregedor-geral da Justiça, desembargador Claudio Brandão; o cardeal Dom Orani Tempesta; a juíza do TRF2 Valéria Caldi Magalhães; o desembargador Peterson Barroso Simão e a desembargadora Helda Meireles
Disponibilizar o acesso à Justiça para todos. Este é o principal objetivo do mutirão PopRuaJud, iniciativa que faz parte da Política Nacional de Atenção às Pessoas em Situação de Rua, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que acontece nos dias 26, 27 e 28 de agosto na Catedral Metropolitana do Rio. Em sua quarta edição anual, o PopRuaJud 2025 é promovido pela Justiça Federal (TRF2), em parceria com os tribunais de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), Regional do Trabalho (TRT1) e Regional Eleitoral (TRE), que integram o Fórum do Poder Judiciário no Rio de Janeiro (Fojurj), entre outras instituições, totalizando mais de 60 oferecendo diferentes serviços, como de assistência, orientação jurídica e voltados para o resgate da cidadania das pessoas em situação de rua, além de atendimentos na área da Saúde – como serviços odontológicos e de vacinação – e cortes de cabelo.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) está marcando presença por meio do ônibus da Justiça Itinerante, disponibilizando serviços como retificação de registro civil, emissão de segunda via de identidade e encaminhamentos relacionados à pensão alimentícia, entre outros. A juíza da Central de Audiência de Custódia Desembargador Antônio Jayme Boente Andressa Maria Ramos Ramundo destacou a relevância da ação como uma forma de aproximação.
“É um evento de inclusão social, que aproxima o Poder Judiciário e outras instâncias da população em situação de rua. Ele permite um contato direto com essas pessoas, possibilitando conversar e compreender melhor suas realidades e histórias”.
Uma dessas histórias é a de Larissa Rodrigues, de 27 anos. Mãe de gêmeas de seis anos e carregando a filha Alice, de pouco mais de um ano, no colo, ela participou do PopRuaJud para acompanhar a situação da pensão alimentícia de seu ex-marido. “Elas precisam disso, então é por elas que eu estou aqui. Estou muito feliz”.
Embora o principal objetivo do evento fosse facilitar o acesso a serviços judiciais, a ação também permitiu desfrutar alguns dos aspectos mais simples da vida, como beber um copo de água gelada sob o forte sol ou assistir a um show musical debaixo de sombra. Foi exatamente isso que fez Edson Tobias, de 58 anos, na manhã desta quarta-feira. Após resolver uma pendência relacionada ao auxílio do Bolsa Família, ele contou que decidiu aproveitar o espaço.
“É importante, porque quem vive na rua encara muita falta de atenção, muito descaso, entende? Ninguém vem procurar a gente para saber se estamos precisando de alguma coisa. Então, quando acontecem esses eventos, eu acho muito importante. É um trabalho bacana, já que não é comum recebermos uma atenção especial”, completou.
Larissa Rodrigues levou sua filha, Alice, para resolver uma questão de pensão alimentícia
Mudança de nome
O nome de uma pessoa, ainda que muitas vezes não percebam, acaba tendo um impacto profundo sobre quem ela é. Esse é o caso de Bernardo Ferreira, de 34 anos. Filho de um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, ele nasceu em 1990, quando o pai tinha 69 anos, e a mãe, 36. Embora tenha convivido com o pai até os 18 anos, ele conta que foi criado predominantemente pela família da mãe, o que o motivou a buscar a mudança de nome.
“Meu pai tinha um pensamento mais antigo, na época dele, quem nomeava o filho era o pai. E eu não gostava do meu nome de nascença e já queria mudá-lo há bastante tempo. Hoje tive a oportunidade de fazer isso, oficializando o nome que adotei quando tinha 27 anos e inserindo o sobrenome da minha mãe. Agora sou Bernardo Miguel Carvalho Duarte Ferreira.”
Bernardo Ferreira conseguiu realizar um desejo antigo de colocar o sobrenome da mãe
Outra história relacionada à mudança de nome é a de Amanda Felix, de 36 anos. Ao falar sobre sua trajetória e as dificuldades de ser uma mulher trans em situação de rua, ela destacou o quanto oficializar sua mudança de nome é significativo. “Quero ser respeitada como eu sou. As pessoas aqui sabem trabalhar com o público e respeitam o seu gênero. Isso é o mais importante”.
Mulher trans, Amanda Felix conseguiu fazer a mudança do seu nome
O anfitrião do evento, o arcebispo do Rio, cardeal Dom Orani Tempesta, ressaltou: “O PopRuaJud é uma luz que ilumina o presente e o futuro. O presente, sobre o que podemos fazer pelas pessoas para proporcioná-las dignidade, mas ao mesmo tempo, para além do presente. Olhemos para um futuro no qual todos tenham a vida com dignidade.”
Estiveram presentes na abertura da 4ª edição do PopRuaJud: o corregedor-geral da Justiça, desembargador Claudio Brandão; a juíza auxiliar da Presidência do TJRJ Paula Feteira Soares; a desembargadora Helda Lima Meireles; o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, Peterson Barroso Simão; o corregedor do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), desembargador federal Firly Nascimento Filho; a juíza federal e coordenadora do PopRuaJud, Valéria Caldi; além de outras autoridades e representantes de instituições participantes.
VM/IA
Fotos: Felipe Cavalcanti/TJRJ