Cena Lida, Cena Comentada relembra Esperança Garcia, a primeira advogada do Brasil
Atores contam a história de Esperança Garcia, primeira advogada do Brasil
Esperança Garcia, a primeira advogada do Brasil, foi o tema do programa teatral de leitura dramatizada do Centro Cultural do Poder Judiciário (CCPJ), Cena Lida, Cena Comentada, que aconteceu na última quarta-feira, 10 de setembro, na Sala Multiuso do Edifício Desembargador Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
O programa traz à tona a histórica petição de 6 de setembro de 1770 dirigida ao então presidente da capitania de São José do Piauí. Esperança Garcia, mulher negra escravizada, denunciou maus-tratos e abusos físicos sofridos por ela, seus filhos e companheiras de cativeiro na fazenda Algodões.
Após muitas pesquisas e análises de estudiosos, em 2022, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) passou a reconhecer Esperança Garcia como a primeira advogada brasileira. A obra inédita foi idealizada pela atriz, dramaturga e produtora Soraia Arnoni. Sob a direção de Ricardo Torres, o elenco contou com a própria Soraia, o ator Deo Garcez e a participação especial da jornalista e atriz Lica Oliveira.
Soraia contou que a ideia de escrever a peça surgiu de uma provocação feita pelo advogado Humberto Adami e ressaltou o trabalho de pesquisa para conhecer mais sobre a vida de Esperança. “Eu me cerquei de materiais de pesquisa acadêmica. Li muitas teses, muitas dissertações para compor e contar a história desse interior do Piauí de 1770. De documentos oficiais mesmo, eu tenho a carta da Esperança, a carta de um interventor que vai junto com a carta dela, que é do José Esteves, e o inventário da fazenda Algodões. Oficialmente, de fonte primária, eu tenho somente esses três documentos para compor o universo da Esperança Garcia”, contou a atriz.
O ator Deo Garcez exaltou a importância da peça por relembrar a vida de uma figura marcante para a história do Brasil e destacou sua função como instrumento de luta antirracista. “O Caminhos de Esperança tem a função de recuperar histórias e heroínas apagadas, casos de escravidão e tantas outras situações que precisam ser resgatadas. Precisamos reconhecer a nossa própria história, a identidade brasileira, que é formada por essa mestiçagem e pela contribuição fundamental de nossos irmãos escravizados na construção do país”, refletiu o ator.
A jornalista Lica Oliveira destacou como o apagamento de muitas trajetórias prejudica a compreensão da história do Brasil. “Esperança é um nome lindíssimo e acende uma centelha. Pretendemos provocar essa inquietação, para que as pessoas busquem essas histórias e tenha justiça por essas pessoas. A palavra justiça é muito pertinente, sobretudo porque estamos em um ambiente em que se prega a justiça", completou.
VS/ SF
Fotos: Rafael Oliveira / TJRJ