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Primeiro encontro estadual de grupos reflexivos dá destaque à violência de gênero e masculinidades
Notícia publicada por Secretaria-Geral de Comunicação Social em 02/12/2025 12h55

                                                                       Cerca de 100 pessoas acompanharam o primeiro encontro estadual 
 

Quando a violência invade lares e afeta vidas, a transformação precisa começar de todos os lados, inclusive daqueles que a praticam. Com essa visão, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) realizou, nesta segunda-feira, 1º de dezembro, o I Encontro dos Grupos Reflexivos e Responsabilizantes para Homens Autores de Violência do Estado do Rio de Janeiro.  
 
Promovido pelo Núcleo de Promoção de Políticas Especiais de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar (Nupevid), em parceria com a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Coem), o encontro, que aconteceu no Auditório Desembargador José Navega Cretton, das 10h às 18h, foi marcado por debates sobre as masculinidades e os caminhos para a prevenção de novas violências. 
 
Durante a abertura, a juíza coordenadora do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da comarca de Três Rios, Elen de Freitas, destacou a importância de expandir essas iniciativas para todas as comarcas do estado e de garantir a capacitação das equipes envolvidas. Segundo ela, a experiência mostra resultados concretos: a redução de reincidências e maior adesão ao cumprimento das medidas protetivas. “A Coem vem trabalhando para que todos os juizados de violência doméstica do Tribunal de Justiça tenham um grupo reflexivo, possibilitando que os juízes façam os devidos encaminhamentos”, afirmou a juíza. 
 
A mesa de abertura também contou com a psicóloga Marta Filartiga Henning, representante da Divisão de Apoio Técnico Interdisciplinar (Diati), que ressaltou a importância da formação contínua dos facilitadores. Ela lembrou que os grupos reflexivos são instrumentos previstos na Recomendação nº 124/2022 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e que, mais do que punir, esses espaços promovem reflexão, responsabilização e cultura de paz. “O enfrentamento à violência de gênero exige medidas que vão além da punição do agressor e da proteção individual da vítima, incorporando ações preventivas, educativas e intersetoriais”, pontuou a psicóloga. 
 
Ao longo do evento, especialistas e facilitadores compartilharam experiências e reflexões sobre os desafios de lidar com a violência de gênero sob uma “perspectiva relacional”. Em sua fala, a psicóloga da equipe técnica do Nupevid Márcia Valéria Guinancio lembrou o caso de feminicídio de duas professoras no Cefet-RJ, ocorrido na última sexta-feira, 29 de novembro, e o sentimento de luto e urgência que o episódio trouxe.  “Estamos aqui justamente para refletir sobre o que é possível fazer para transformar essa cultura que tem violentado meninas, adolescentes e mulheres, e que tem contribuído para o crescente número de feminicídios em nosso país”, afirmou Márcia. 

Psicóloga do TJRJ Márcia Valéria durante sua fala no encontro 

                                                                             Psicóloga do TJRJ Márcia Valéria fala durante o encontro 

 
O educador Leandro Uchoas, presidente do Instituto Shanti Brasil, enfatizou que a violência é um fenômeno predominantemente masculino, resultado de padrões culturais que moldam comportamentos desde a infância. “Os índices de homicídios, suicídios e estupros são majoritariamente masculinos. É evidente que existem padrões comportamentais e culturais que direcionam esse tipo de comportamento”, destacou, defendendo a necessidade de ações educativas desde as escolas. “Se podemos ensinar a odiar, também podemos ensinar a amar”, citou, referindo-se a uma frase de Nelson Mandela. 
 
Durante as discussões, os palestrantes ressaltaram que os grupos reflexivos não têm como objetivo punir, mas provocar reflexão e mudança. Outro ponto defendido foi a abordagem das masculinidades como fenômeno social e sistêmico. “Refletir sobre gênero é compreender o cotidiano desses homens, escutá-los e permitir que eles também se escutem. Só assim é possível iniciar um processo real de transformação”, afirmou a professora Marilda de Oliveira Leme. 
 
Também participaram deste primeiro encontro estadual a diretora da Diati, Sandra Pinto Levy; o professor David Cardoso; a psicóloga do Programa de Residência do TJRJ Luana Bringel; as assistentes sociais Debora Melo Canedo e Marcia Borba; o professor João Nadaes; o psicanalista Daniel Fauth; e a capitã da Polícia Militar do Rio de Janeiro Paula Fraga.  
 
VM / MG

Fotos: Brunno Dantas/TJRJ