Violência doméstica em tempos de pandemia é tema de live da campanha #DireitosDelas
“O lar não é um lugar seguro para a mulher”, afirmou a juíza Juliana Cardoso, na segunda live da campanha #DireitosDelas, sobre violência doméstica em tempos de pandemia, na tarde desta sexta-feira (12/3). Para a magistrada, da 2ª Vara Criminal de Itaboraí e do Juizado de Violência Doméstica e Família Adjunto, a pandemia não é o motivo da violência contra a mulher, apesar do isolamento social ter agravado o problema.
“O motivo na verdade é esse machismo estrutural que assola toda a sociedade. Com a pandemia, alguns fatores incrementaram esse risco que a mulher está submetida”, ressaltou a juíza, que se diz inconformada com as relações desiguais entre homens e mulheres.
Durante a transmissão, a jornalista Fabiana Sobral, que conduziu a conversa, citou os dados divulgados recentemente pelo Observatório Judicial da Violência contra a Mulher, mostrando que, em comparação ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de 60% dos processos envolvendo feminicídio.
“Antes da pandemia, um estudo foi divulgado revelando que grande parte das agressões de mulheres ocorreram dentro de casa. Com o isolamento social, associado a outros fatores de risco, essa situação se agravou”, explicou a magistrada sobre as estatísticas, acrescentando: “algo tem que mudar porque as mulheres não estão seguras em seus próprios lares”.
Uma das formas de combater essa problemática, de acordo com a magistrada, é a divulgação de campanhas que informem sobre o tema, para que as vítimas possam reconhecer uma situação de violência e saibam como se proteger. “A violência doméstica é um problema de toda a sociedade. Combatê-la é um dever de todas e todos nós”, afirmou.
Na ocasião, Juliana Cardoso destacou a campanha Sinal Vermelho, que agora virou lei no Rio de Janeiro, envolvendo estabelecimentos comerciais e repartições públicas na proteção de mulheres vítimas. Segundo informou a magistrada, a primeira ocorrência da campanha no estado foi em Itaboraí, município onde atua no Judiciário. A vítima mudou sua foto de perfil no Whatsapp para a imagem de um xis vermelho e foi socorrida pela prima.
“As mulheres ainda têm muitas dúvidas. Essas iniciativas de disseminação do conhecimento são fundamentais para que elas percebam as situações de risco nas quais estão inseridas”, concluiu a magistrada.
Na conversa, Juliana Cardoso ressaltou ainda, como é importante que as mulheres fiquem atentas aos primeiros sinais de violência. “O feminicídio não acontece de um dia para o outro. Ele surge numa escala crescente de pequenas violências. Tudo começa com o abuso psicológico”, afirma.
Para a magistrada, uma relação abusiva é um terreno fértil para a violência doméstica: “menosprezar, provocar um dano emocional, constranger, ameaçar, humilhar, tudo isso são sinais do início da violência psicológica. É importante que a mulher esteja atenta e não naturalize essas atitudes”.
Ao final da transmissão, a juíza fez uma reflexão sobre a pandemia: “Acredito que esse seja um bom momento para as famílias refletirem, de um modo geral, e redescobrirem não apenas questões relativas à sua organização, por conta do isolamento, mas também refletir acerca da questão de gênero, das divisões de tarefas, como tratamos e somos tratadas”.
Antes de encerrar, Juliana Cardoso citou a ex-primeira dama dos Estados Unidos Michelle Obama: “Nada pode ser mais triste para uma mulher do que perder a sua dignidade por gostar de um homem”.
Programação de lives #DireitosDelas
A próxima live da campanha #DireitosDelas abordará o impacto da violência doméstica no Direito de Família, com a juíza Rosana Albuquerque França, da 1º Vara de Família, Infância e Juventude de Itaboraí. A transmissão será feita pelo perfil @tjrjoficial, no Instagram, na quarta-feira (17/3), às 18h30.
RR/FS