Projeto Inspirar: mulheres privadas de liberdade participam de roda de leitura
“Nós estamos aqui, mas não somos daqui. Cada uma tem a sua história. Eu não posso deixar esse lugar tomar o que eu sou. Eu tenho uma meta que é sair melhor do que entrei.” A declaração é de Lúcia (nome fictício), que está em privação de liberdade, interna no Instituto Penal Talavera Bruce, em Bangu, Zona Oeste do Rio. Ao lado de outras detentas, ela recebeu, nesta sexta-feira (04/10), a visita da escritora Eliana Alves Cruz para uma roda de conversa sobre o livro “Solitária”.
O encontro é parte do Projeto Inspirar, uma iniciativa da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Coem), em parceria com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, (SEAP-RJ), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Mulher-RJ) e a Defensoria Pública do Rio.
“Inspirar é um projeto de reflexão através da leitura, feito dentro das unidades presidiárias. São rodas de leitura, é como se fosse um clube do livro, mas, ao final, as detentas fazem uma avaliação, que confere a remição da pena, que é o direito de a cada livro ter quatro dias de redução da pena”, explica a juíza Camila Guerin, membra da Coem.
O Talavera Bruce, em Bangu, Zona Oeste do Rio foi o instituto penal escolhido para as ações do projeto, lançado em 2022. Já foram realizadas cinco oficinas com grupos de 15 a 20 apenadas, todas alfabetizadas e de bom comportamento.
“É um desejo pessoal atuar no sistema penitenciário pela OAB, garantindo os direitos, e olhar para as detentas como seres humanos. A transformação de vida e de mente é o que o projeto vem trazer”, destacou a advogada Ananza Figueiredo, representante da OAB Mulher.
“Tudo isso traz um impacto na autoestima, na ressocialização, no senso de humanidade, no empoderamento e na inspiração, que é o que o projeto ‘Inspirar’ pretende causar”, complementou a juíza.
Emocionada, Márcia (nome fictício) falou que a iniciativa fez com que ela voltasse a sonhar: “Eu me sinto muito feliz por conhecer a autora. Esse livro fala muito sobre a justiça, orixás. Tudo que ela quis transmitir para nós é a questão de superação. Eu estou pagando o que tenho que pagar aqui e, lá na frente, vou ser médica. Eu vou ser médica daqui a uns 15 anos.”
“Certas circunstâncias trouxeram essas pessoas aqui e, não nos cabe julgar. Como eu acredito na literatura e na arte como um fator de liberação e de libertação do ser humano, do espírito, estar aqui e auxiliar um pouco nesse processo de libertação é muito especial para mim”, pontuou a escritora.
O livro
“Solitária”, de Eliana Alves Cruz, conta a história de duas mulheres negras, Mabel e Eunice, mãe e filha, que moram no trabalho, em um condomínio de luxo. Eunice, a mãe, é testemunha-chave de um crime ocorrido na casa dos patrões. Mabel, a filha, constrói o caminho que leva não apenas à elucidação deste crime, mas a uma mudança radical na vida das pessoas que cercam as protagonistas.
O Projeto
Tornar mais humano o universo carcerário feminino por meio do estímulo ao gosto pela leitura é o principal objetivo do projeto “Inspirar”.
A iniciativa está de acordo com a Resolução nº 391/2021 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que estabelece procedimentos e diretrizes a serem observados pelo Poder Judiciário para o reconhecimento do direito à remição de pena por meio de práticas sociais educativas em unidades de privação de liberdade. A ação está alinhada com a política pública de Execução Penal, recomendada pelo CNJ.
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Fotos: Rosane Naylor
Departamento de Comunicação Interna