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Dia Internacional da Mulher: os desafios enfrentados por magistradas e servidoras durante a pandemia
Notícia publicada por Assessoria de Imprensa em 08/03/2021 09:27

Hoje é o Dia da Mulher! E muito ainda é preciso ser conquistado no universo feminino – a igualdade de gênero, o fim da violência doméstica, um basta ao feminicídio que vitima tantas mulheres diariamente. Mas, mesmo com todas as adversidades, elas são fortes e vão à luta: trabalham, coordenam casa, filhos, cuidados com os pais – muitas vezes sozinhas -, por exemplo, e dão conta do recado.   
 
 E, nessa pandemia, as mulheres encontram ainda mais desafios com o ambiente doméstico se juntando ao do trabalho, dos filhos, dos cuidados exigidos pelo momento e com familiares que precisam de atenção especial por terem ficado doentes, além das restrições sociais. Muitas também se infectaram e conseguiram vencer um novo inimigo: o coronavírus.   
  
E é em homenagem a elas que retratamos aqui, por meio de algumas histórias, como nossas magistradas e servidoras vêm enfrentando os desafios da pandemia e continuam produzindo mais do que nunca.    
  
Celebração inesquecível  
  
Um Natal emocionante e inesquecível. Assim foi a celebração de fim de ano da juíza Denise de Araújo Capiberibe, titular da 3ª Vara Cível do Fórum Regional da Leopoldina. Mas não apenas pelos motivos associados à data como a união familiar, os presentes e os princípios religiosos. O marco foi além: no dia 24 de dezembro, seu tio paterno recebeu alta hospitalar após ficar internado por 65 dias devido à Covid-19.    
  
“Teve alta na véspera do Natal, o que marcou muito a todos da família. Motivos em dobro para celebrar”, destaca a magistrada. Denise Capiberibe atua como juíza TJRJ há 16 anos, porém sua paixão pelo Judiciário fluminense começou tempos atrás: foi estagiária do tribunal e tinha o sonho de se tornar juíza, seguindo os passos de uma tia.   
  
Para ela, que também foi infectada pelo novo coronavírus no início de outubro com sintomas leves, a pandemia trouxe muitos desafios, sendo o de conciliar os afazeres domésticos com a supervisão das atividades escolares dos filhos e o trabalho, o maior. Mas, avalia que a tecnologia foi imprescindível para dar conta de tantas exigências.  
  
“A produtividade em casa é muito maior e ainda alia o conforto, segurança do lar e desnecessidade de deslocamento, o que representa vários aspectos positivos, não só a título pessoal, como para a mobilidade urbana. O contato humano é o aspecto mais positivo no trabalho presencial. Acredito que o modelo híbrido nos atenda atualmente e persistirá após o fim da pandemia, por congregar os aspectos positivos das duas formas de desempenho das atividades judiciais e administrativas”, afirmou.  
    

A juíza Denise Capiberibe tem como exemplo de mulher Maria da Penha Maia Fernandes, cujo nome deu origem à lei de combate à violência doméstica 


Para a juíza, são muitos os exemplos de mulheres que se destacaram ao longo da história, por estarem à frente do seu tempo. Mas ela homenageia, em especial, no Dia Internacional da Mulher, Maria da Penha Maia Fernandes, a brasileira que, depois de ser vítima de violência doméstica, lutou pela aprovação de uma lei especial que pudesse proteger as mulheres em situação de risco e, ao mesmo tempo, punir os agressores.   
  
Múltiplas funções   
  
A servidora Márcia dos Anjos, diretora do Departamento de Pessoal da Magistratura, da Diretoria-Geral de Gestão de Pessoas (DGPES), trabalha no TJRJ há 26 anos. Formada em Direito, estagiou na área e advogou antes de ser tornar analista judiciária. E, mesmo com tanta demanda, nesses tempos diferenciados, não perde o bom humor.   
  
“Ser dona de casa, explicadora, profissional, namorada, cuidar da própria saúde, sem ter contato social direto com a família e os amigos para aliviar a carga? Isso é tarefa para impressora multifuncional. Pois é, me transformei em uma “HP” múltiplas funções”, brinca Márcia.   
   
Em meio a tudo isso, ainda precisou lidar com o fato de seus pais terem sido infectados com o vírus que amedronta o mundo.  Seu pai ficou internado por 9 dias, pois teve sintomas graves. A mãe e dois irmãos também tiveram a doença, mas com sintomas brandos.     
   
Do que mais ela sente falta no trabalho remoto? Do calor humano. Mas, para a servidora há o lado positivo de trabalhar de casa.   

 

A servidora Márcia dos Anjos brinca que, nesta pandemia, se tornou uma impressora com múltiplas funções. Na foto, no dia em que ganhou o Colar do Mérito Judiciário. 
  
Mesmo distantes, aprendemos que podemos produzir. Fiquei mais perto do meu filho e fui capaz de admirar mais minha própria companhia. Mesmo de longe podemos nos ajudar, isso foi um grande aprendizado”, reconhece.    
   
E por falar em mulher, Márcia faz questão de reverenciar sua avó Arina:   
   
“Ela sempre me incentivou a estudar e ser independente, a dar e ser o meu melhor. Sempre me dizia: ‘se deres o melhor de ti, podes ter certeza que, de alguma forma, estás ajudando o mundo a melhorar'. Isso ficou para sempre".   
   
Solidariedade   
   
Para a ex-professora Graciana Janoth foi difícil manter o equilíbrio em meio a tantas restrições impostas pela pandemia, em especial com os filhos de 10 e 13 anos estudando em casa.   
  
“Conciliar trabalho, filhos e casa, dentro da normalidade, já é puxado; com a pandemia, tudo ficou ainda mais intenso”, avalia a analista judiciária. E em plena pandemia ele encarou mais um desafio: tornou-se chefe de serventia da 2ª Vara de Saquarema, na Região dos Lagos, em maio do ano passado. E ainda venceu Covid-19 no final do ano, sem gravidade.   
   
“Apesar de já conhecer os colegas de trabalho, foi intenso aprender novas rotinas e assumir responsabilidades com as quais não era afeta. Manter uma rotina de trabalho para atender às demandas dos jurisdicionados, além de cumprir as metas vindas da Corregedoria foi, pra mim, o maior desafio”, conta a servidora, que viu sua produtividade aumentar em tempos de home office.   

 

Graciana Janoth viveu o desafio de se tornar chefe de serventia durante as restrições impostas pelo novo coronavírus 
   
Graciana avalia ainda que, em meio a tanta tristeza no momento em que vivemos, as demonstrações de solidariedade se destacam, pois grande parte da sociedade se viu prejudicada por não conseguir trabalhar, prover seu sustento e dos seus e as redes de apoio foram cruciais. Formada em Direito, ela traz consigo os ensinamentos da sua mãe.      
   
“Seus ensinamentos estão vivos em mim. A essência é: ser íntegro, trabalhar para superar os obstáculos com maior equilíbrio possível, ter um olhar àqueles que estão a sua volta e ser grato”.      
   
Por um futuro melhor   
   
A vida nunca foi fácil para Rita de Cassia Ferreira. Filha de uma família simples, de doze filhos, viu sua mãe trabalhando na roça, no interior de Minas Gerais, e, mesmo com muitos obstáculos, criando todos com caráter e dignidade.  
  
 “Pessoa de uma fé inabalável, sempre nos guiou para o bom caminho e, apesar das dificuldades, que não eram poucas, sempre nos incentivou a buscar o melhor para nós”, conta a servidora, que nasceu deficiente visual.  
   
Anos antes, sua irmã Maria Helena, 20 anos mais velha, também nascera com deficiência visual. E ela abriu caminhos para que Rita pudesse ter um futuro promissor, tal qual o seu.  
   
“Aos 16 anos, minha irmã tomou conhecimento da existência do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, e, trazida por meu pai, veio para cá, sozinha. Estudou e foi professora do IBC por mais de 30 anos. Quando nasci, minha mãe, ao perceber que eu tinha a mesma deficiência, avisou Maria Helena que me traria para o Rio na idade escolar. Assim, em março de 1978, cheguei ao IBC. Maria Helena foi quem me “criou” dali para frente. Hoje, digo que ela é minha ‘irmãe’”, conta carinhosamente.   

 

Deficiente visual, Rita de Cássia precisou aprender, durante o isolamento, novo sistema para trabalhar com processos virtuais 
   
A analista judiciária lotada na Divisão de Processos Administrativos Sigilosos (Dipas), da Corregedoria-Geral da Justiça, relata seu primeiro receio na pandemia: ir às ruas sozinha e não receber ajuda devido ao isolamento social.    
   
“Estranhei muito quando percebi que pessoas bem próximas evitavam tocar em mim, ou alegavam coisas como ‘estou falando longe para proteger você’. Mas, procuro manter a tranquilidade e, quando saio, não tenho encontrado muita resistência das pessoas. Elas continuam me dando o braço, graças a Deus, e me orientam naquilo de que preciso. Na medida do possível, tento manter algumas atividades, tomando os cuidados devidos.  Mas, sinto falta de encontrar os amigos, pois tenho vários que fazem parte do grupo de risco, e nunca mais estive com eles”, diz.   
   
Ela não foi infectada pelo novo vírus, mas viu sua irmã, sua sobrinha e a filha dela, com menos de três anos, serem atingidas pelo coronavírus. Ficaram em isolamento e se curaram.   Antes de ser aprovada no concurso para o Tribunal de Justiça do Rio, Rita deu aulas no Instituto Benjamin Constant, direcionado a deficientes visuais, por cinco anos. Mas foi em meio à pandemia seu grande desafio profissional.    
   
“No trabalho, a mudança foi radical. De uma hora para outra, saí sem concluir tarefas, deixando coisas sobre a mesa, acreditando que fosse voltar na semana seguinte. Conforme verifiquei que não seria tão rápido como pensava, comecei a viabilizar formas de trabalhar em casa, inclusive tive que aprender a trabalhar com um novo sistema. Com a pandemia, tive que dar meu jeito, pois até os expedientes com os quais eu trabalhava, que eram físicos, de repente, passaram a tramitar pelo sistema virtual”, revela, já acostumada à nova rotina.   
   
SP