Uma abertura emocionada marcou hoje (22/8) o início das aulas que darão a 25 jovens que estão em abrigos, liberdade assistida ou semiliberdade uma segunda oportunidade para que consigam se inserir no mercado de trabalho. O projeto piloto foi criado através de convênio entre o Tribunal de Justiça e a Amil e os jovens estão inscritos na Central de Aprendizagem, ligada à Corregedoria Geral da Justiça. Com material didático, lanche e transporte garantidos, esta primeira turma terá aulas três vezes por semana na Escola de Administração Judiciária (Esaj) do TJRJ, num total de 132 horas/aula que englobam temas como cidadania e temas comportamentais, comunicação e marketing pessoal, educação financeira e empreendedorismo.

A aula magna foi dada no Auditório José Navega Cretton por representantes do Instituto Ser Mais. Participaram da mesa de abertura, o presidente do TJRJ, desembargador Milton Fernandes de Souza; o corregedor-geral da Justiça, desembargador Claudio de Mello Tavares; o defensor público-geral, André Machado; a diretora de sustentabilidade da Amil/UnitedHealth Group Brasil, Odete Freitas; o juiz auxiliar da CGJ Afonso Henrique; a presidente da Comissão Interinstitucional do Estado do Rio de Janeiro para a Aprendizagem (Cierja), juíza Raquel Chrispino e o diretor jurídico da Amil/UHG, Eduardo Gil; e a diretora-geral de Administração da CGJ, Alessandra Anátocles.

- Espero que vocês aproveitem. É um caminho que se está abrindo para que vocês possam seguir a vida de botafoguense de vocês pra frente, embora o Botafogo hoje não esteja muito bem – brincou o presidente do TJRJ arrancando risos (e algumas negativas) dos adolescentes. – Essa uma iniciativa importantíssima, do poder público e de uma empresa privada. Uma iniciativa que vai trazer um caminho. Um caminho só se constrói com trabalho. Nada vem fácil. Tudo é muito difícil na vida. Espero que vocês aproveitem bastante! Parabéns à Corregedoria Geral e parabéns à UnitedHealth Group pela iniciativa, que é extremamente importante para a sociedade brasileira.

O Corregedor-Geral da Justiça lembrou que a Central de Aprendizagem é fruto de uma parceria que envolve diversas organizações e explicou que ali ficam arquivados os dados de jovens de 14 a 24 anos, para que as empresas possam contratá-los como jovens aprendizes, como determina a legislação.

- Hoje é um marco importantíssimo na vida de vocês. Nós temos muitos desafios pela frente. Para conquistarmos um lugar ao sol precisamos arregaçar as mangas, precisamos ter fé e esperança. Hoje vocês estão tendo essa oportunidade. Vejo aqui a alegria de alguns pais e os parabenizo por estarem aqui celebrando essa vitória. Tenho certeza de que esta semente que está sendo plantada aqui hoje dará muitos frutos. Este é o primeiro passo. Nunca se esqueçam: não percam a esperança e tenham determinação porque vocês podem contar conosco para atingir o verdadeiro sonho. Vocês estão aqui em busca de uma luz que irá iluminar caminhos que, até agora, se mostraram obscuros. A bagagem que cada um carrega será transformada em nova perspectiva de futuro. Vocês verão que, ao adotarem uma postura do bem, muitas portas se abrirão para uma vida com tranquilidade e dignidade.

O desembargador Claudio de Mello Tavares lembrou que esteve em unidades do Degase e ouviu pedidos de ajuda feitos pelos adolescentes lá internados:

- Agora estou aqui, graças a Deus, honrando minha promessa, criando mecanismos para entregarmos as ferramentas a vocês. Hoje eu que lhes faço um pedido: usem as ferramentas de forma útil. Vocês foram os escolhidos para representar outros 1.200 jovens que estão em nosso banco de dados. Vocês, 25 adolescentes, foram os escolhidos. A postura e o compromisso de vocês serão a vitrine para abrir as portas para os demais. Se precisarem de ajuda, se estiverem desmotivados, não hesitem em nos procurar. Chegamos a um momento em que se faz necessária a união de esforços de todos os segmentos da sociedade para assumirmos o compromisso de contribuir com o estabelecimento de ações contundentes de cooperação entre si. Cada qual dentro de suas forças e possibilidades, visando a construção de uma sociedade mais justa, segura e igualitária. Aproveito a oportunidade para pedir que outros empresários, que trabalharam muito para chegar onde estão, nos ajudem também. Temos que ajudar nossos semelhantes. O poder só tem sentido se, através deles, pudermos ajudar nossos semelhantes.

O defensor público-geral, André Machado, ressaltou a importância da parceria e da Central de Aprendizagem:

- O que está se inaugurando hoje é de grande importância para a sociedade brasileira. Um projeto que cria alternativa num cenário de tão poucas alternativas para jovens em situação de internação em unidades onde, teoricamente, cumprem medidas socioeducativas, mas estão em situação dramática. Esta é uma pequena janela que se abre para nossos jovens. O sistema raramente dá oportunidades e esta deve ser fortemente agarrada.

O juiz Afonso Henrique Barbosa ressaltou a importância da comunicação entre todas as instituições para que trabalhem em prol de um bem comum e lembrou aos jovens:

- Estamos todos aqui por vocês. Vivemos em uma sociedade bastante desigual. A dificuldade de encontrar oportunidades está latente no Brasil, onde há dificuldades também no acesso à educação. Espero que vocês aproveitem esta oportunidade e tenham esperança. Vocês e outros jovens brasileiros são o nosso futuro.

A presidente da Cierja lembrou que as construções mais valiosas demandam muito tempo e não são feitas de tijolos:

- Nosso grande desafio é que esses jovens tanto do sistema de proteção quanto do de socioeducação são jovens que abandonaram a escola. As estatísticas mostram que 85%  dos jovens aos quais se atribuiu um ato infracional abandonaram a escola. Muitos não conhecem ser alfabetizados efetivamente e o analfabetismo funcional acaba impedindo que haja prosseguimento escolar através do quinto, sexto ano.

A diretora de sustentabilidade da Amil/UnitedHealth Group Brasil, Odete Freitas, emocionada, e lembrou que a aula magna de hoje se deu, concidentemente, no dia do aniversário do fundador da UHG, que foi muito pobre durante a infância. E continuou:

- Vocês merecem uma escola de boa qualidade e o governo (ainda mais em época de crise) não vai conseguir fazer tudo. Este é um projeto piloto e vamos acompanhar de perto esses meninos. Espero que possamos fazer uma turma dessas a cada semestre. Todos podemos errar. O mais importante é aprendermos com nossos erros. É dar a volta por cima. Espero ver esses meninos se formando e com uma bonita carreira pela frente.

O diretor jurídico da Amil/UHG, Eduardo Gil, observou que todo processo de mudança passa por três fases: o desejo de mudança, a mobilização de pessoas e a ação:

- Agir é a mais importante. Trazer para a realidade um projeto que estava no papel. Ninguém passa pela vida sem errar. A diferença é a forma como encaramos nossos erros. Não tenho dúvidas de que este projeto dará certo.

Encerrando a mesa de abertura, a diretora-geral de Administração da CGJ, Alessandra Anátocles, bastante emocionada também, agradeceu a parceria da UHG/Amil e continuou:

- O passado, neste momento, é o que menos importa. Temos que nos aliar a esses meninos e pensar no futuro. Aproveitem para ter uma nova vida com dignidade. Desejo que vocês tenham força, fé e esperança num futuro melhor que começa a ser escrito agora.

Avó de um dos alunos do curso, Clara Pinheiro toma conta dos dois netos. O filho, pai dos dois, teve 70% do corpo queimado num incêndio. A mãe deles é usuária de crack e sumiu. O neto mais velho sumiu de casa por um tempo:

- Muita gente me falou para deixar ele pra lá, mas eu não quis e o procurei muito. Um dia ele voltou para casa e eu não tinha nenhum apoio ou instrumento para ajuda-lo. Ele foi levado à uma audiência e, de repente, foi chamado pelo tribunal para trabalhar como jovem aprendiz. O outro ficou muito triste por não ter esta oportunidade e, agora, está aqui fazendo este curso. Eu acreditei muito desde o início e esse projeto pode dar certo!

Um dos adolescentes comentou que jovens como ele ficam conversando nas comunidades onde moram sem nada para fazer. A falta de uma oportunidade e de visão do futuro faz com que muitos acabem se envolvendo com tráfico de drogas em busca, não só de dinheiro, mas de uma ocupação. E prometeu:

- Vou agarrar esta oportunidade com unhas e dentes!

E a coordenadora de projetos no Rio do Instituto Ser Mais, Simone Masson, garantiu:

- No fim dos cursos, acompanhamos esses jovens para saber como estão, se estão estudando, frequentando outro curso, se conseguiram emprego etc.

A cerimônia de abertura foi assistida não só pelos adolescentes e seus responsáveis, mas também pelos desembargadores Marcelo Anátocles e César Cury; pela juíza Lucia Glioche, da Vara de Execução de Medidas Socioeducativas; pelos diretores-gerais de Logística (DGLOG) do TJRJ, Francisco Budal; de Gestão de Pessoas (DGPES), Gabriel Pinto; de Fiscalização e Apoio às Serventias Extrajudiciais, Nilton Carlos Firmino; de Fiscalização e Assessoramento Judicial, Claudio Torres; além de servidores de diversos setores da Corregedoria Geral da Justiça.