“Menino, fica aí! Não some!” A ordem, com ar de apelo, é facilmente ouvida entre ambulantes que trabalham nos arredores da Marquês de Sapucaí no carnaval, levando, além de isopores nos ombros, os filhos a tiracolo. Mas, se depender do projeto ‘Carnaval Criança Carioca’, coordenado pela 1ª Vara da Infância e da Juventude Protetiva da Capital do Tribunal de Justiça do Rio, a cena será cada vez menos comum. A iniciativa, que chega ao seu segundo ano consecutivo e visa abrigar em segurança crianças e adolescentes que acompanham os pais no frenético vaivém de vendas noite afora, ganhou mais parceiros e deve se tornar uma política pública de proteção e prevenção à infância.
“Sempre nos preocupamos com essas crianças que seguem os pais ou responsáveis enquanto eles trabalham como ambulantes no carnaval. Como muitos moram longe e não têm com quem deixar as crianças acabam trazendo elas. Com o acolhimento temporário, as crianças ficam seguras, cuidadas, e eles podem trabalhar em paz. Ao fim de cada jornada, pegam seus filhos e retornam para suas casas”, diz a juíza titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude Protetiva da Capital, Lysia Mesquita.
Nesta edição, a busca ativa das crianças – momento que os agentes do projeto conversam com os pais, explicam o projeto e fazem o convite para o acolhimento – começa já nesta sexta-feira (28/2), quando começam os desfiles no Sambódromo, a partir das 17h. Estarão disponíveis três espaços para abrigar crianças e adolescentes: Praça Reverendo Álvaro Reis (Cidade Nova), Praça Castelo Branco (Cidade Nova), Espaço de Desenvolvimento Infantil Rachel de Queiroz (Praça Onze) e a Central Carioca (Praça Onze), que vai receber o ônibus de games da Fundação para a Infância e Adolescência (FIA).
Nos locais serão oferecidas oficinas de maquiagem, trança, desenho, recreação, distribuição de kits escolares, lanches e até jantar. A expectativa é que pelo menos cem crianças e adolescentes passem pelos espaços durante os desfiles do Sambódromo, inclusive no Sábado das Campeãs. Durante o período de funcionamento do projeto serão coletados dados para a construção de um perfil social das famílias atendidas com objetivo de encaixá-las em políticas públicas já existentes.
Crianças acolhidas nos últimos ensaios técnicos no Sambódromo receberam kits de guloseimas e pequenos brinquedos
Durante os ensaios técnicos ocorreram experiências-piloto de busca ativa e de acolhimento em outros espaços, sendo a iniciativa bem-recebida por várias famílias de ambulantes.
São parceiros do Carnaval Criança Carioca, os Juízos da Infância e da Juventude Protetiva da Capital, a Associação Beneficente dos Amigos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (Abaterj), Defensoria Pública, secretaria municipal de Assistência Social, o Programa Empoderadas da secretaria estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, FIA e a Escola Mirim Estácio do Amanhã, que doou duas alas para participação das crianças acolhidas em seu desfile.
FS
Foto: Divulgação 1ª VIJP